Organizada pela direção artística e a equipe curatorial do Inhotim, a exposição “O Mundo é o Teatro do Homem” continua uma pesquisa iniciada pelo museu em 2021, em parceria com o Ipeafro, sobre a obra do dramaturgo e ativista Abdias Nascimento.
O Mundo… apresenta dois vídeos inéditos, um de de Jonathas de Andrade e outro da dupla Barbara Wagner e Benjamin de Burca. A exposição se desenvolve ao redor da relação entre prática teatral, formação artística e ativismo social. O ponto de partida é o legado do Teatro Experimental do Negro (TEN) de Abdias Nascimento e sua influência sobre o Teatro do Oprimido, do também dramaturgo Augusto Boal. Diversos materiais de arquivo contextualizam as trocas entre Abdias, Boal e as práticas e conceitos que ele consolidou no Teatro do Oprimido. Já as duas obras em vídeo apresentam forte conexão com a temática de Boal.
O projeto expográfico procura traduzir as relações entre estes diversos autores e utiliza a arquitetura de teatro como referência.
A proposta é marcada por cortinas e telas de materialidades bem distintas, mas igualmente mundanas. A das cortinas é opaca e toldada, enquanto a das telas é translúcida e diáfana. As cortinas foram confeccionadas com encerado de caminhão na cor ocre, enquanto as telas são feitas de planos fachadeiros na cor branca (como a das telas usadas nas fachadas da construção civil). As cortinas encerram as salas escuras de projeção de vídeo, enquanto as telas demarcam os arquivos de Abdias e Boal em ambientes contíguos e iluminados.
O suporte das cortinas e das telas remete à arquitetura da caixa cênica de um teatro, daí o emprego de varas cênicas como elemento de sustentação.
Os documentos sobre os dramaturgos estão apresentados em suportes verticais e horizontais. As principais fotos ficam nos painéis verticais auto-portantes, enquanto os escritos e artigos de jornal ficam nas mesas. Os núcleos da curadoria, “Augusto Boal, o TEN e o Teatro do Oprimido” e “Teatro como Instrumento de Auto-conscientização do Trabalhador”, conformam dois ambientes dispostos em arranjos mais ou menos fluidos. Complementa a documentação da mostra um mesão para consulta de livros sobre os dois dramaturgos.
A cortina da primeira sala de projeção é ondulada e abriga a obra Fala da Terra. A mostra prossegue com as muitas telas fachadeiras que servem para organizar os dois núcleos curatoriais. Elas sobrepõem-se em camadas translúcidas, sendo que a segunda e última sala de projeção é revelada aos poucos, à medida que o visitante se aproxima do final do percurso.
Esse final é marcado pela cortina lisa da segunda sala. É uma superfície curva que define uma cuia em “U” onde está a arquibancada e a tela de Olho da Rua, obra de Jonathas de Andrade que encerra a exposição.
Fotos: Daniel Mansur, Carlos M Teixeira