Montevidéu 285 é um edifício de apartamentos em Belo Horizonte projetado e incorporado pelo escritório. O prédio tem um pavimento atípico que conta com grandes janelas, níveis separados e pé-direito “colonial” de 3,5 metros, o que foi possível graças ao aproveitamento máximo do gabarito permitido por lei. A sacada ao longo desse andar atípico é uma segunda referência à arquitetura colonial. As salas e quartos recebem o sol da manhã e são protegidos por guarda-sóis; as áreas de permanência breve são voltadas para o oeste, e todos os sete apartamentos têm plantas diferentes.
As telas, tubulações e jardineiras que distinguem a fachada são materiais prosaicos aqui utilizados num contexto avesso a inovações – o mercado imobiliário local.
Mais do que um projeto, o edifício faz parte do posicionamento do escritório, ao mesmo tempo prático e experimental, o que só foi possível devido ao nosso duplo papel como arquitetos e incorporadores.
Abaixo, uma resenha do edifício publicada pelo crítico de arquitetura Luiz Mauro do Carmo Passos:
“(…) À primeira vista, o Montevidéu exibe elementos incomuns, mas é uma planta racional, apta a diversos tipos de famílias. O conceito aplicado é de adaptabilidade, não de flexibilidade. Há um térreo com garagem e oito unidades. A área é a média da faixa referencial de 65m² a 130m². As plantas são basicamente iguais, o mesmo tipo arquitetônico. Áreas molháveis concentradas, dispostas a oeste; sala e quartos a leste. A cozinha aberta pode ser fechada; a compartimentação de quartos e corredor, desfeita, estendendo a sala em um único espaço aberto.
“Variações sutis produzem em cada andar acidentes, idiossincrasias que especificam cada moradia – parecidas, mas não exatamente iguais, como figuras de jogo de erros. A novidade está na região intermediária no 501, pé-direito de 3,50m, sala com desnível e terraço ao longo da face leste e norte efetuam uma intervenção no que poderia ser um prédio comum. Esse acidente repercute no pé-direito de partes dos 401 e 601, com desníveis na sala. A geometria pura do volume é proporcionalmente corrompida por estas singularidades e pelo experimental filtro solar da tela.
“Finalmente, e mais importante, um requisito essencial: janelas de todos os quartos e salas voltados para o sol da manhã, ventilação cruzada em todas as unidades. Nem mais nem menos. Nada demais. Estética nem minimalista, nem maximalista (algo entre Loos e Gehry, Venturi e Lacaton & Vassal), equilibrismo, eudaimonia. Igualdade e diversidade foram possíveis aqui. Que venham outros, diversos diferenciados e comuns, gregos e baianos.”
Revista AU, jun/2011
Fotos: Carlos Teixeira, Eduardo Eckenfels, Leonardo Finotti