Residência construída com estrutura mista: eucalipto laminado colado no miolo, concreto armado no perímetro. Resultado das articulações entre as duas estruturas, ambas criam um complexo de elementos estruturais no vazio da casa que permite uma disposição livre dos quartos e dos patamares em diversos níveis. Com pé direito de 9 metros, a escada é o elemento central da casa.
Abaixo, uma resenha da casa publicada no portal Archdaily pelo crítico de arquitetura e professor da Universidade do Texas em Austin, Fernando Lara:
“Como gancho para começar a analisar a Casa Vila del Rey de Carlos Teixeira eu poderia dizer que tudo que se faz hoje no Brasil referencia, de um modo ou de outro, a tradição moderna que encantou o mundo nos anos 50. Ou poderia argumentar que a crise da chamada década perdida (os anos 80), jogou para o alto todos os valores arquitetônicos e limpou o caminho para a invenção de uma arquitetura absolutamente desligada da geração moderna. Ou poderia ainda mesmo dizer que tudo que sobrou do modernismo brasileiro foi uma imagem esvaziada de seus princípios transformadores ou geradores de uma identidade. Mas nenhum desses argumentos me convence e eu prefiro acreditar numa combinação de tradições e deslocamentos que coloca Carlos Teixeira um passo a frente deste debate. Arquiteto, designer, autor, crítico, Carlos Teixeira é um dos poucos que consegue combinar múltiplos campos de ação com um raro rigor. Em seu livro “Em obras: historia do vazio em Belo Horizonte” Teixeira faz uma leitura da cidade onde vive e trabalha a partir da falta, da ausência, do que não foi feito, do que não foi desenhado.
“E diante da Casa do Vila del Rey, contemporânea do livro em questão, me parece que o tema do vazio carrega diversas chaves para o entendimento do projeto. Sinônimo de espaço, o vazio como forca motriz de desenho traz, no caso das obras de Teixeira, um rigor capaz de manter a coerência mesmo diante dos inevitáveis contratempos do laborioso processo de construção. Como oposto daquilo que é matéria, inverso do envelope, o vazio nos diz do espaço habitável. Que ironicamente deixa de ser vazio ao ser vivido. O vazio seria então a premonição ou antecipação deste espaço. Ou seja, o vazio como estratégia é o próprio projeto, o desenho de um espaço futuro.
“E são vários os vazios a que a Casa Vila Del Rey se refere. Ao vazio da paisagem de baixa densidade ao redor a casa responde se afastando da rua, tanto horizontalmente ao se implantar na segunda metade do terreno e de forma diagonal, quanto verticalmente uma vez que o piso da entrada se situa 8 metros abaixo da rua. Chega-se a ele por uma combinação de rampa e escadas em linha reta. Aos poucos a casa se revela para o visitante como uma caixa levemente flexionada e bastante transparente com 6 grandes janelas de 4 por 3 metros que se voltam para o sul. Durante o dia pode-se ver a paisagem do vale através da casa, ou seja, ao vazio da paisagem a casa responde com gentileza, fazendo-se quase invisível do ponto de vista do espaço publico da rua. E assim sendo parece mais vazia do que realmente é.”
Archdaily, 03/02/2012
Texto completo disponível aqui.
Fotos: Eduardo Eckenfels, Carlos Teixeira, Jomar Bragança