Vazio S/A foi convidado pela X Bienal de São Paulo para integrar a Residência Bixiga / Teatro Oficina. Dentro do conceito de utilizar a plataforma da Bienal não apenas para expor, mas para enfrentar os processos de produção da cidade em tempo real, a Residência terá como objetivo desenvolver propostas de revitalização para o bairro Bixiga e, mais especificamente, para o terreno vago ao lado do Teatro Oficina.
No período da Residência, este terreno será transformado em um laboratório de arquitetura e urbanismo onde um grupo de arquitetos criará diretrizes, formas de gestões e protótipos em modelos diversos para o projeto de ocupação deste terreno/bairro. Essas novas diretrizes serão apresentadas publicamente ao longo da X Bienal de Arquitetura no Sesc Pompeia. Os membros da Residência serão Carila Matzenbacher e Marilia Gallmeister (Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona); Jonas Knapen e Jeroen Stevens (pesquisadores da Universidade KU Leuven, Bélgica); e Carlos Teixeira e Daila Araujo (Vazio S/A).
Leia abaixo a proposta dos chamados Modos Colaborativos da X Bienal de São Paulo e detalhes sobre os demais convidados para as outras residências apoiadas pela Bienal.
PROPOSTA SESC – X Bienal de Arquitetura de São Paulo
MÓDULO: modos [colaborativos]
CONCEITO GERAL
A X Bienal de Arquitetura de São Paulo propõe uma reflexão sobre as complexas dinâmicas que constroem, destroem e reconstroem a cidade cotidianamente. Articulando os campos do planejamento e do projeto, está do lado do “fazer” e do “usar”, o que implica a participação crítica e criativa do cidadão sobre os conflitos inerentes à vida urbana. O tema Cidade: Modos de Fazer, Modos de Usar propõe o engajamento consciente de todos nos processos de construção e fruição das cidades, apontando para a responsabilidade coletiva. A X Bienal fomentará a discussão dos impasses e das soluções urbanas atuais por meio de projetos, obras e experiências importantes da cena urbana brasileira e internacional.
CONCEITO
modos[colaborativos]
O módulo Modos [colaborativos] traz a reflexão do fazer a cidade por meio de uma rede de ações, nas quais coletivos de arquitetos, urbanistas e artistas, unidos às instituições, movimentos e comunidades locais, produzem conhecimento – seja ele teórico ou prático – para responder às demandas e problemáticas urbanas. Como vemos ultimamente, temos um esgotamento das antigas maneiras de planejar as cidades e as intervenções dos coletivos de arquitetura em conjunto com as comunidades locais, trabalhando de maneira colaborativa, apontam para um novo cenário possível de planejamento e atuação. Esse módulo procura ressaltar a maneira colaborativa de construir, pensar e usar as cidades através do enfoque no modus operandi dos coletivos, ou think tanks, que pode ser sintetizado da seguinte maneira:
ORGANIZAÇÃO VARIADA
Escritórios e coletivos de ação crítica espalhados ao redor do mundo com atuação em seus próprios contextos socioculturais locais e expansão para contextos estrangeiros.
NOVA AGENDA DE ATUAÇÃO SOBRE O ESPAÇO URBANO
Novos planos de ação que visam a colaboração.
ATUALIZAÇÃO METODOLÓGICA
Novas ferramentas e métodos de aproximação de questões urbanas, estratégias inusitadas de pesquisa, discussão e ação modificadora do espaço sociocultural urbano.
HETEROGENEIDADE DE LINGUAGENS
Produto resultante das atividades pode ter suportes variados: ensaios críticos, pesquisas de levantamento, periódicos, diagramas analíticos, filmes, intervenções artísticas, projetos construtivos, etc.
FORMATO
Para apresentar, discutir e testar essa maneira de atuar foi formatado um programa para três núcleos: o Núcleo Sesc Pompeia, o Núcleo Teatro Oficina e o Núcleo Cidade Tiradentes. Cada um contribuindo de maneira específica e complementar para a exposição.
O Núcleo Sesc Pompeia é o coração do módulo Modos [colaborativos] que, por meio de palestras, oficinas e de espaços expositivos, trará as informações consolidadas de trabalhos anteriores de coletivos selecionados pela curadoria, além de expor os trabalhos em andamento nas três residências criativas da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, a saber; Residência Pompéia, Residência Bexiga e Residência Cidade Tiradentes. A Residência Pompéia trará uma reflexão da situação atual do bairro e potencializará soluções urbanas interessantes.
O Núcleo Teatro Oficina, em ponte direta com o Sesc Pompéia, trará a reflexão das regiões centrais da cidade que foram prejudicadas por intervenções urbanas anteriores. Os coletivos serão convidados a refletir, na escala maior, possibilidades de recuperação para o bairro do Bexiga – em conjunto com atores locais. E, em menor escala, serão pensadas soluções possíveis para o lote onde está localizado o Teatro Oficina, dando continuidade ao projeto original de Lina Bo Bardi, que previa o espraiamento do edifício no quarteirão, acomodando espaços públicos e culturais.
O Núcleo Cidade Tiradentes será uma ponte para as zonas periféricas da cidade, que também sofreram com a falta de planejamento e com o isolamento. A ideia é trazer estes lugares mais distantes para o foco, testando sua capacidade de integração para a produção de uma intervenção pelos coletivos convidados e pela comunidade – além de uma reflexão de possíveis caminhos para o desenvolvimento urbano do lugar. Esse núcleo está conectado aos outros dois fazendo parte do itinerário do evento, por meio de palestras, atividades e exposições dos trabalhos realizados. Para a integração dos núcleos entre si, e a própria X Bienal como um todo, serão utilizados totens com informações, mapas e painel interativo, além de vans que conectarão os núcleos com a rede de transporte público.
DESENVOLVIMENTO
Residência Bexiga:
Estará em pauta a história do bairro, sua transformação contínua e suas carências. Em outro nível se debaterá também a situação atual do ambiente construído para a realização de uma intervenção na escala do lote, repensando o projeto original de Lina Bo Bardi – que prevê a expansão do Teatro Oficina no quarteirão, tornando-se assim um grande equipamento cultural. Serão convidados os seguintes coletivos:
Vazio S/A (Belo Horizonte) –I parte: setembro
Supersudaca (America Latina) – II parte: novembro
+ Uzyna Uzona (São Paulo) e Arq. Leuven (Bélgica)
MÉTODO
O método de trabalho será a formação de pares de coletivos nacionais e internacionais, que deverão trabalhar em conjunto com representantes da comunidade para o desenvolvimento de um projeto, seja em desenhos ou em construções de fato. Os grupos mistos deverão desenvolver um projeto a partir do problema proposto.
O primeiro encontro será para delinear estratégias, e ajustar o cronograma de desenvolvimento do projeto durante a X Bienal. Acontecerão encontros, debates e palestras, nos quais cada grupo deverá apresentar o trabalho em andamento com desenhos, fotos, textos e etc. O Núcleo Sesc Pompéia terá um área reservada para apresentação dos trabalhos em andamento, fazendo uma ponte direta com os outros dois núcleos.
Os coletivos encerrarão todas as atividades uma semana antes do término da X Bienal de Arquitetura e acontecerão os debates e apresentações finais. A ideia é que o trabalho traga reflexos futuros, e que cada comunidade seja capacitada para dar continuidade aos projetos discutidos, junto a seus representantes.
Coletivos
Supersudaca (América Latina):
Coletivo internacional que foca seu trabalho na América Latina com projetos relacionados à percepção pública de espaços coletivos. Possuem trabalhos em andamento como o projeto de Habitação Social Experimental em Lima e com a pesquisa sobre o impacto do turismo no desenvolvimento urbano do Caribe. O coletivo ganhou seu primeiro prêmio no concurso Vanguard de habitação social, com o projeto de 170 habitações em Ceuta.
CRIT – Colletive Research Initiatives Trust (Mumbai/Índia):
Coletivo formado desde 2003, o grupo está envolvido em pesquisas de intervenções em espaços urbanos, principalmente nas áreas de habitação, periferias e urbanismo emergente. Os métodos utilizados pelo coletivo são multidisciplinares e desenvolvem uma orientação tática que está profundamente ligada ao dia a dia do local estudado. Como projetos recentes, o grupo desenvolve o Slum Settlement Studies (2011), que visa o entendimento dos aspectos tipológicos de assentamentos em Mumbai, fornecendo apoio para que várias comunidades possam desenvolver suas moradias e estruturas sociais.
Desis Lab/Parsons (NY/EUA):
É uma rede de escolas de design, instituições e ONGs que desenvolvem design para inovação social e sustentabilidade. O DESIS Lab atua em pesquisas que promovem a iniciativa comunitária para busca de meios criativos de viver e trabalhar – essa iniciativa é dos professores e alunos da The New School of Design da Parsons de Nova Iorque em conjunto com a The New School of Management and Urban Policy de Milão. Em 2012 a DESIS Lab ganhou prêmio da Rockefeller Foundation, que é entregue a iniciativas de inovação cultural nas áreas de publica e colaborativa por uma parceria com o Departamento de preservação e desenvolvimento de moradias de Nova Iorque. O projeto explorava maneiras de facilitar o envolvimento da população no desenvolvimento da construção de serviços relacionados à moradia de investimento público e privado.
NLÉ (Lagos/Nigéria):
Envolvido em pesquisas sobre transformações rurais e urbanas da sociedade atual, esse think tank de Lagos acredita na formação de um novo fenômeno denominado megacultura, como impacto da forte globalização. Utilizando-se das inteligências global e local, o coletivo demonstra o funcionamento dos mecanismos que operam no desenvolvimento das megacidades. O fundador do NLÉ, Kunlé Adeyemi, já teve seus artigos publicados em vários países e palestrou em diversas instituições, como a Universidade de Lagos, Harvard, MIT, Guggenheim New York, Universidade de Delft, entre outros. Em 2012, projetou e construiu uma Escola Flutuante na comunidade de Makoko, em Lagos – o projeto responde de maneira objetiva e viável às necessidades sociais e físicas da comunidade carente, desenvolvendo conhecimentos construtivos que poderão ser utilizados pela população da costa africana.
Vazio S/A (Belo Horizonte):
Numa mistura de prática e pesquisa, o trabalho desse grupo acredita que a informalidade, os vazios urbanos e o mercado podem ser catalisadores de novas oportunidades. Sua gama de trabalho inclui intervenções urbanas efêmeras que acionam novas relações entre cultura e arquitetura. Dentre outros projetos, de uma série denominada Amnésias Topográficas, em 2001, foi feita uma intervenção arquitetônica num espaço degradado e subutilizado que serviu de cenário para peça da companhia Armatrux. Ali, a arquitetura, a cenografia e o paisagismo, se misturam, trazendo à tona a discussão ambiental.
Al Borde (Quito/Equador):
É um estúdio colaborativo e experimental de arquitetura, que foca em resolver as necessidades reais com base nos materiais disponíveis. O coletivo trabalha com o que estiver a seu alcance para resolver o problema espacial específico, sem esquecer a questão global. É comum que trabalhem em conjunto com artistas, atores, músicos e etc. O sistema construtivo desse grupo sempre resulta em um hibrido entre técnicas tradicionais e contemporâneas, além de integrarem a comunidade, sua história e seus valores na construção do espaço. Em 2009, fizeram o projeto Escola Nova Esperança, que participou da seleção oficial do Panorama Ibero-americano de Obras, prêmio conferido pela VII BIAU de Medellín. A escola deveria ser altamente relacionada ao entorno natural, o que ajudaria as crianças a se adaptarem ao ambiente. Para isso, os arquitetos utilizaram os mesmos métodos construtivos com que a comunidade local constrói suas casas – com uma base de madeira sobre pilotis e telhado de palha.
Partizaning (Moscou/Rússia):
O nome vem de um termo que significa uma nova estratégia de intersecção da “street art” e o ativismo social. O grupo procura demonstrar, numa tradição revolucionária, como as mensagens não autorizadas e as ações não solicitadas podem se tornar elementos essenciais de uma transformação cultural. Seu objetivo é refletir, e promover a ideia do ‘faça você mesmo’, para reestruturar e melhorar o ambiente urbano e comunidades.