O rápido ensaio abaixo foi publicado no catálogo da exposição “2º Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake”, onde foram apresentados os dez finalistas da premiação em julho-setembro de 2015. O júri foi composto por Shundi Iwamizu, Abílio Guerra e Carlos Teixeira (Vazio S/A), quem escreveu sobre o projeto classificado em primeiro lugar, “Cota 10”.

+info: Exposição do 2º Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake Akzonobel

Urbanismo da Ausência
“A arquitetura pode ser a revelação de uma ausência? Uma investigação sobre uma energia latente, uma sensibilidade a um ruído de fundo inaudível? Esse parece ser o mote de Cota 10. Numa profissão sempre preocupada em construir, poucos ouvem os ecos do que foi demolido. Ocupados em adicionar, arquitetos raramente consideram o potencial da subtração, da destruição, dos vazios.

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Cota 10 é essencialmente um projeto de urbanismo aqui entendido não como a organização espacial de uma cidade, mas precisamente o contrário: a microescala justaposta à grande, uma escada como comentário sobre a evolução das cidades, uma investigação sobre um elemento arquitetônico puro que aqui foi isolado de seu contexto funcional para denunciar os equívocos do urbanismo rodoviarista que assolou nossas cidades. E é também uma antítese de tudo associado ao urbano: uma proposta efêmera e instantânea, portanto infinitamente distante de todos os entraves burocráticos e políticos geralmente associados à lentidão do urbanismo.

Ser arquiteto pode ser a expressão do desejo de propor alternativas ao status quo atual da profissão – a vontade de exercê-la de modo menos condicionado pelo pragmatismo que assola sua prática. E talvez a interface com suas áreas limites seja o verdadeiro denominador comum das vanguardas contemporâneas.

Acho que poucas vezes na história houve trocas interdisciplinares com tal intensidade: nos últimos quarenta ou cinquenta anos, artistas, coreógrafos, diretores e mesmo músicos experimentais têm trabalhado com ferramentas antes privativas dos arquitetos: espaço, estrutura, uso e planejamento passaram a integrar o vocabulário de vários agentes culturais. Podemos dizer que a cultura de hoje nutre-se das cidades e de arquitetura, mas a arquitetura praticada no Brasil tem permanecido surda a essas tentativas de aproximação.  Nesse contexto, o escritório Grua Arquitetos surge como uma prova de que outras práticas são possíveis, demostrando uma expansão do campo de atuação da profissão sem que isso signifique o abandono do instrumental que lhe é próprio: programa, função, estrutura e espaço.”