Publicado originalmente no livro História do Vazio em Belo Horizonte (Carlos M. Teixeira, Cosac Naify, 1999), o texto abaixo descreve um crescimento urbano inverso, onde tudo o que um dia foi destruído seria recuperado e incorporado pela cidade com a mesma voracidade da destruição de outrora.
Edição e animação: Alexandre Campos (sobre fotos de Belo Horizonte e São Paulo)
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Tumor Benigno
“Se a história de Belo Horizonte é um filme, este pode ser resumido a uma transformação dos vazios de uma cidade jovem em cheios de uma cidade saturada. Esse projeto é a imagem desse filme vista em câmara rápida, mas em sentido inverso (como a imagem que se tem com a tecla rewind dos VCR): é um retrocesso na história que, paradoxalmente, aponta para os melhores futuros da cidade. Recapitulemos toda a história de BH em poucos minutos, para que o absurdo da ocupação dos vazios fique mais claro. Se o “progresso” desta cidade está identificado com a paulatina ocupação de seus lotes, parques e áreas verdes, um retrocesso significa desocupar os cheios e re-instaurar os vazios e o natural. Desafogar o Centro, adensar e interligar a periferia eficientemente, imaginar projetos tão delirantes como o foi a densificação de Belo Horizonte. Voltar às origens da cidade. Imaginar, mais uma vez, a liberdade e a força dos vazios. Agora, a zona urbana passará a ser um grande Parque Municipal, num gesto de “vingança do urbanismo”. Como um enorme Central Park – que é ao mesmo tempo negação e exaltação da cidade -, a zona urbana passará a ser a natureza de que dispomos: a natureza das coisas que escaparam ao artificialismo da arquitetura. A vingança: metástase inversa daquela que caracterizou o crescimento da cidade.
“Um tumor benigno. Uma mancha de vazios contaminando os cheios. Um retrocesso: volta ao início da história como forma de enxergar um futuro mais saudável.”