Vazio S/A começou uma parceria com o grupo de teatro Armatrux em 2001, quando trabalhamos juntos no projeto Amnésias Topográficas I, onde foi encenada a peça Invento para Leonardo. Essa rara convergência entre teatro, arquitetura, cenografia e urbanismo foi repetida depois com outras companhias do Brasil, entre elas o Teatro da Vertigem e o Teatro Oficina, ambas de São Paulo. O breve texto abaixo foi escrito originalmente para o perfil Instagram “O Chão que Eu Piso”, e descreve um outro espetáculo dentro desta mesma convergência entre cidade e teatro.
Praça Palimpsesto
Carlos M Teixeira
“Pisos de casas antigas me lembram uma peça de teatro encenada num lote vago há muitos e muitos anos, em 2001. Na verdade não era um lote: uma casa na Rua Sergipe, em Belo Horizonte, tinha sido demolida há poucos dias, e então um grupo de atores aproveitou esse breve período, quando a casa se transformara em lote, pra apresentar um espetáculo noturno em meio aos palimpsestos de paredes e pisos da casa demolida.
Dirigida pela atriz e produtora Andrea Caruso, foi uma peça de uma única apresentação montada numa ocasião muito efêmera: dias depois, os palimpsestos seriam destruídos por uma retroescavadeira que levou as últimas memórias da casa. E infelizmente, mais dias depois, os inevitáveis tapumes de canteiro de obras fariam com que aquele espaço, que foi público por poucos dias, voltasse a ser um terreno privado como outro qualquer.
O cenário do espetáculo era essa praça inusitada feita de restos de muros e azulejos, de tacos em zig-zag e ladrilhos hidráulicos, de escadas e lajes estampadas no muro do vizinho, de árvores apertadas num quintal imaginário. Era melancólico e onírico, mas também apontava para uma discussão futura que só hoje pode ser vista como uma demanda de todos que moram nas capitais do Brasil: mais e melhores espaços públicos, a conversão de áreas privadas em praças, a necessidade de um melhor diálogo entre a esfera pública e a privada.
Essa ‘Praça Palimpsesto’ com certeza seria melhor para a cidade do que o prédio que hoje está na Rua Sergipe com R. Fernandes Tourinho, assim como ela também seria melhor que a casa que foi demolida.”