“Bom Retiro 958 metros” é o último espetáculo do Teatro da Vertigem, grupo com uma trajetória de 20 anos marcada pela apropriação poética dos espaços onde se apresenta. Com direção de Antônio Araújo, o espetáculo estreou em junho e teve direção de arte de Amanda Antunes e Carlos Teixeira (Vazio S/A) e iluminação de Guilherme Bonfanti. Como o título diz, a peça é um percurso de um quilômetro pelo Bom Retiro – bairro no centro de São Paulo onde coexistem oficinas de costura clandestinas, mercearias coreanas, restaurantes árabes e judaicos, confecções femininas, fábricas de manequins, costureiras bolivianas, casas barbaramente lacradas pelo prefeito Kassab, a Cracolândia etc.

As montagens abaixo são processuais e traduzem a busca não só da direção de arte, mas também de todos os artistas e técnicos envolvidos, por uma releitura dos elementos encontrados no bairro. Bom Retiro 958 metros é talvez a primeira dramaturgia do grupo encenada nas ruas e fala sobre a realidade das cidades do Brasil – os atritos entre espaço e uso, o processo de gentrificação, o abandono do Centro, a realidade dos imigrantes clandestinos, o descuido pelo espaço público, os drogados, os sem-teto – e o contraste de tudo isso com o mundo da moda.

Assim como os projetos do livro Entre: Architecture from the Performing Arts (Carlos Teixeira, Black Dog, 2012), “Bom Retiro 958 metros” é parte da trajetória do Vazio S/A que propõe uma aproximação inusitada  entre atuações que, em princípio, dialogam com públicos e metiês que pouco conversam entre si.

Fotos: Flávio Portella (acima) e Carlos Teixeira (montagens abaixo)