Brasília conquistou o Cerrado, mas o Cerrado ainda vai reconquistar esse território perdido. A retomada deste bioma é o tema de “Brasília, cidade-Cerrado“, texto publicado mês passado no portal Vitruvius. Abaixo, um excerto do ensaio pelo Carlos:
“Cidade-Cerrado?
“Provavelmente há uma mitologia brasiliense que ainda está por ser narrada. O céu azul e a terra vermelha ainda vão inspirar uma nova prosa, uma nova ecologia: a dos capins sem fim. Nenhum monumento, nenhuma exuberância. Mesmo assim, por que é que o Cerrado é fascinante? Deve ser a potência da pura extensão territorial. Os sussurros da imensidão ameaçada. O fim da distinção heróica entre natureza e cultura. O choque incalculado entre a arquitetura nacional e o Planalto Central. A sucessão de funções rígidas do urbanismo moderno (setor hoteleiro, setor comercial, setor bancário etc.) corrompidas pela sucessão livre de árvores de casca grossa (barbatimões, pau-santos, jacarandás-do-cerrado etc). As curvas orgânicas dos troncos retorcidos sobrepostas às curvas geométricas das abóbodas e dos arcos. A capital como prova irrefutável de que o Brasil não é um país moderno (e sim um país de natureza soberana e avassaladora, ainda). A negação da herança barroca e colonial e o elogio da vitalidade primária da terra. E por último, a imagem maior da nossa culpabilidade: porque Brasília não é, de fato, uma cidade-Cerrado?”
Texto completo em Arquitextos 242.00, disponível no portal Vitruvius.
Uma versão em inglês foi publicada em Nonument, uma plataforma internacional muito instigante que mapeia, pesquisa e arquiva espaços públicos na Eslovênia e no resto do mundo. Ver Brasila, Cerrado-city.